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Você, de alguma forma, não sabe lidar com as redes sociais por ficar se comparando com o que lá vê?

Passa mal ou se sente consumido por elas?

 

Leia este artigo...

Comparação em tempos de redes sociais. porque ela acontece e faz sofrer.

Graças ao universo digital, vivemos em um mundo de fácil acesso às vidas alheias, famílias alheias, viagens, gostos, alegrias, tristezas, falecimentos, lutas e lutos também alheios. O problema começa quando há uma fixação viciada e alienante no mundo virtual de modo a permitirmos que tais contextos alheios afetem nossa realidade interna, desestruturando

valores humanos basais, como, por exemplo, o amor próprio.  

Já é fato comprovado que a vida ‘nas telas e nas redes’ rebaixa as nossas cognições e as nossas já precárias filtragens sensórias, o que contribui ainda mais para um contínuo ciclo tóxico de consumo exagerado e sem discernimento de fatos e ‘fakes’ e, também favorece adoecimentos psíquicos, como os causados pela Comparação.

Vamos lá?

Como terapeuta, atendo diversos casos de sofrimento e perda de contato com a realidade derivados dessa ‘livre concorrência’ entre as pessoas, em ‘seus vazios inerentes particulares’, versus ‘o alheio pleno’.

Mulher no celular

Não é segredo que a realidade virtual e o conteúdo digital permitem uma conexão mais abrangente do indivíduo com o mundo, porém, ao mesmo tempo, criam um ser humano solitário, marcado pela desconexão de si mesmo e pelo ‘’apequenamento’’ do seu olhar para a realidade, não só no sentido literal, devido à limitação margeada das telas, mas, também e principalmente, pela cultura do approch, o que nomeio da cultura da ‘realidade nichada’.

Quando uso o termo ‘nichado’ me refiro a uma imensurável sistemática humana associada à tecnológica, criada para direcionar nossos olhares para uma fatia específica da realidade como se ela fosse a única a ser consumida, semelhante a um truque de mágica ou às práticas de nossa velha e boa publicidade com produtos e marcas específicos, porém, hoje, de maneira mais invasiva, realizadas a partir de algoritmos desenvolvidos não só para propor consumo, mas para reger a nossa interação social, influenciando, de formas inimagináveis, a noção individual de realidade privada e pública, como também a percepção de vida e de nossa autoimagem.

Para comprovar estes preceitos é relevante citar um dado exposto no Mídia.Jor 2021, evento que reúne jornalistas para debater conteúdos atuais na área. Foi atestado, diferentemente do que se pensava, a existência de alto consumo de notícias por parte dos jovens, porém, desde que sejam ‘nichadas’ e não mais descritivas e lineares como de praxe no antigo jornalismo, ou seja, os jovens se conectam a notícias que devem ser embaladas, não por um invólucro físico, mas a partir de uma vertente direcionada (approch) tal qual já exposto,  como na estratégia de venda e consumo.

Você sabe que o comportamento dos jovens revelam tendências no mundo, ditam para onde e por onde a sociedade caminha e irá caminhar, por isto é possível afirmar que o contexto é oportuno para a indução da exposição pessoal como produto e, que, globalmente, estamos alimentando um Inconsciente Coletivo marqueteiro que nos incentiva a fazermos de nossas vidas e relacionamentos, produtos consumíveis e palatáveis. A manchete no jornal, para isto, seria algo do tipo: "Torne sua vida atraente, as suas verdades produtos e os seus relacionamentos exemplares para assim, ser você consumido, reconhecido e validado!’’

Menina com o celular
Amigas no mar

Convenhamos que esta proposta é TUDO para seres carentes e precários como nós neuróticos seres humanos, ou pelo menos para a maioria de nós, pois nesta ideia está contida a venda do do Pertencimento, tão emocionalmente vital para suprir um vazio permanente.

Sim! Entenda e aceite, somos seres faltantes e a falta é a base da neurose nossa de cada dia! Por isto, podemos dizer que, a comparação é a busca incessante e desesperada por si mesmo na vida alheia, visando satisfazer desejos e vazios por meio da fantasia das histórias do outro, as quais, a pessoa que se compara, está fadada a nunca concretizar.

Sim! Entenda e aceite, somos seres faltantes e a falta é a base da neurose nossa de cada dia! Por isto, podemos dizer que, a comparação é a busca incessante e desesperada por si mesmo na vida alheia, visando satisfazer desejos e vazios por meio da fantasia das histórias do outro, as quais, a pessoa que se compara, está fadada a nunca concretizar.

A neurose e o vazio.

Um observação a respeito da neurose referida a cima é a de que não trata-se dela em nível doentio,  mas da neurose que estrutura o psiquismo da maior parte dos indivíduos, constituída a partir do momento em que, ainda bebês, percebemos a cisão com o útero, lugar teoricamente de proteção e acolhimento e acondicionamento extremos, e a impossibilidade de retornar para ele, o que gera uma angústia permanente de falta e vazio e a procura eterna pela completude.

Entende agora porque a ‘’venda’’ Pertencimento casa com o ideário de Nirvana proporcionado pelas redes sociais?

  • O poder do mergulho voyer na realidade alheia.

Ainda nesta sistemática virtual, uma prática perversa eleva o ato da comparação a uma patologia. Chamo de 'mergulho voyer' nas realidades alheias. Tal mergulho, seja por curto ou longo período de tempo, dá a falsa sensação de plenitude e de preenchimento da falta neurótica inerente e eterna aos seres humanos. 

Exemplo: Imaginemos um ato sexual induzido por realidade virtual com um ótimo gozo cumprido e logo após, a retirada dos óculos e o retorno ao mundinho real, físico. Aquela mente dotada virtualmente de poder e realização, repentinamente vê-se absolutamente imersa num vazio desempoderado.

Pessoa Verificação do telefone
Olhar triste
  • O sentido do desejo e a comparação patológica

Bem, não discordo do uso de tecnologias, usufruo delas, porém, insisto, seus direcionamentos estão a confeccionar seres humanos desestruturados psiquicamente e cada vez mais vulneráveis a despercebidos e nocivos bombardeios emocionais, induzindo a cadeia humana para uma só direção de desejo.

Aliás, por falar em desejo, sabemos que ele é um dos motores da vida. Porém, você dificilmente conseguirá corresponder a todos os estímulos e concretizações desejadas, ou se satisfará com os desejos realizados, posto que esta é a natureza do desejo, insaciável, já diria Buda e, é por isto que se sofre ao se comparar, pois aquele que tem o que você deseja mostra para você a possibilidade do que lhe é mais distante, mas que você, por ser como é, com a história que tem, não consegue, e por isto, seguindo a lógica doentia e irracional da comparação, traz como solução tornar-se aquele ser completo para poder ter o que ele tem.

Todos nós sabemos que haverá sempre alguém maior e melhor e também menor e pior que nós mesmos, é um fato lógico, porém, a comparação patológica se dá quando o sujeito se ressente com a existência de outro ser humano por ele divinizado, e acredita que ele não é o escolhido de Deus, e então, relegado à sua inferioridade, está destinado a ser um medíocre. E assim, vive perseguido pela sombra de seu fracasso diante da existência deste outro ser maravilhoso, criando para si uma redoma de sofrimento incessante, de modo a condenar sua existência à dor de não ser o outro e a querer destruir aquele que o ‘matou’ ainda em vida.

  • O perfil de quem se compara

O perfil do sujeito que se perde no outro e vaga no mundo do alheio é o de um sujeito com autoestima baixa, emocionalmente carente e, de certa maneira, um ‘vaidoso recatado’, ou seja, aparenta ser modesto mas,  quer mesmo ser tratado como rei. Vaidoso por que quer chegar num ‘lá’ tão grande que se projeta pra fora de si mesmo, não aceitando ou até odiando o tamanho que tem.

Tende a ser um sujeito que esconde se si mesmo as suas limitações, mente para si mesmo e para os outros, surfando na onda da autoimagem perfeita precisando corresponder desesperadamente ao que acredita serem os valores morais, éticos, religiosos, financeiros, da ordem do status aceitáveis, e, por isto acaba realizando os seus desejos mais verdadeiros e ‘não aceitáveis’ nas salas obscuras da privação exacerbada, onde sua vaidade perturbadora pode desabar em comportamentos doentios de satisfação viciosas, violentas ou masoquistas.

Quem não? Quem nunca?

 Pois é! Todos nós estamos potencialmente abertos a entrar nesse jogo e a nos destruir na comparação.

Pub povo irlandês celebrando
Pessoa menina mulher verão
  • Consequências da Comparação

Uma consequência doída e perigosa da comparação é, em sua última instância, a cisão do sujeito consigo mesmo, ou seja, ocasião onde a pessoa corrompe seu ser, destituindo de si mesma, não só desvalorizando a si própria, mas  a toda sua história de conquistas e afetos, desprezando seu modo de viver e a vida que tem, além de tudo aquilo que deseja e potencialmente pode realizar.   

  • Resumo das razões para a Comparação

 

1. A própria neurose em si, que condena o homem à falta eterna.

 

2. Razões acentuadas pela forma e pelo contexto de vida do sec. XXI: Novos parâmetros de aceitação e validação social;

 

3. Pessoas condicionadas a menor interação social ‘’tét-a-tét’’, cada vez mais implicadas no mundo virtual, despreparando o sujeito e seu organismo ao treino de respostas emocionais e comportamentais na interação com a realidade das interelações;

 

4. Baixa autoestima e vaidade extremada, falta de aceitação de si mesmo.

  • Saia dessa agora mesmo!

Se você se identificou de alguma maneira com algo aqui descrito, analise-se e ‘saia dessa’ agora mesmo e

aproveite algumas dessas recomendações abaixo, pois podem te auxiliar:

1. Ao se perceber frustrado, em condição de mal estar frente a alguma pessoa, conquista alheia, rede social,

procure voltar a sua atenção para seu corpo e para o seu entorno. Respire profundamente.

 

2. Faça uma pausa, desligue-se de tudo e concentre-se na batida de seu coração. Tente se reconectar com você a partir do contato com seu corpo.  

 

3. Se possível, aproveite e questione-se acerca do que VOCÊ almeja realizar na vida, mas ainda se sente enfraquecido para e anote a resposta no papel.   

 A ideia aqui é que você possa usufruir do gatilho proporcionado pela comparação com o outro para ampliar a sua percepção sobre si mesmo (re) visitando suas possíveis vontades e medos para se aproximar deles e, posteriormente direcionar suas forças e mensurar a sua real possibilidade de querer e poder desenvolvê-las.

4. Atente-se a realidade da sua comparação, pois, muitas vezes, o fato de admirar algo não significa querer/ser ou fazer aquele algo admirado. Cuidado para não deslumbrar-se e desviar-se do seu caminho.

5. Trabalhe a seguinte crença positiva da abundância: ‘’Não é necessário tirar do outro para   eu poder ter. Há abundância suficiente para todos. ’’ e ‘’O que é meu é meu, o que é do outro é do outro’’.

6. Procure dar uma pausa na ânsia e no vício das mídias e vá fazer algo por si mesmo, preferencialmente, envolvendo seu corpo, em atividades onde haja interação física, atividades aeróbicas, pois o quando o corpo está envolvido é mais fácil proporcionar presença a si mesmo. Pode ser a prática de exercícios como natação, caminhada, corrida; Jogos leves como peteca, vôlei, futebol; Pode ser ler um livro, mas melhor que Pode ser um banho, trinta polichenelos, meditação guiada...

7. Frases de declaração como: “Eu, aqui e agora” e “O outro é o outro e Eu sou Eu”, podem  também ajudar pontualmente na autorregulação psíquica e no automanejo comportamental.

8. E, caso não consiga retomar-se sozinho, procure auxílio profissional qualificado, pois este comportamento provoca prejuízos cognitivos, rebaixamento da inteligência e doenças psicoemocionais, como ansiedade e depressão.

Gostou? 

Tem dúvidas?

Contate-nos pelo e-mail: synaptyco.4u@gmail.com

Siga meu perfil no Instagram: @andreafra.y e interaja comigo.

Um abraço, 

Andréa Fray

DAC

Déficit de autoridade comunicativa

Tomos nós em algum nível, temos déficit de autoridade comunicativa. Porém o nível que nos encontramos hoje em dia ultrapassou os limites individuais, tornando-se quase uma regra de comunicação desenfreada, propositalmente distante da verdade do indivíduo e seu contexto. Propositalmente? Sim, enquanto forma induzida de pertencimento a algo maior, mas infelizmente, totalmente inconsciente para o indivíduo. É ai que mora o problema. Somos em grande maioria, em diferentes níveis e de forma inconsciente, replicantes abduzidos, impulsionados pela necessidade de adequação.

Multidão de pessoas

O déficit de autoridade comunicativa está cada vez mais presente e sua disseminação fica mais acelerada a cada ano que passa. De forma geral, veio se acentuando radicalmente ao longo das gerações. E porquê? Creio que você já saiba, mas talvez nunca tenha parado pra pensar a respeito.

Vamos lembrar que todos já fomos crianças e adolescentes. Quando caminhamos pra traz no tempo, nos deparamos com uma educação cada vez mais rígida e uma constante tentativa de reprimir e podar a expressão da criança. Lembre de você! Com raras exceções, quanto mais velho você for, menos expressão ativa no mundo você podia ter na sua infância. Antigamente, a criança e o adolescente tinham muito menos importância. Além de não poderem dar pitaco em nada, eram invisíveis no cenário social e econômico, aquele que diz respeito a girar a roda, a movimentar a máquina da economia. Lembrando que o termo adolescente só veio aparecer no final do sec XIX e recebeu um olhar social apenas no início do sec XX.

Pra você que lembra da sua infância, vamos comparar com hoje?

Hoje as crianças e adolescentes ajudam a girar a engrenagem. As estratégias de marketing para sedução do público infanto-juvenil estão em todas as áreas, tanto no mundo físico como no digital, estimulando seu prazer com cores, sabores, formas e realidades paralelas que, de longe, são muito mais atraentes que a realidade de suas vidas. A criança é influenciada por tantas estratégias mercadológica de consumo desenfreado, que sua condição psíquica não dá conta, e por mais que os pais se esforcem para suprir suas vontades, nunca será suficiente.

Crianças, em, indoor, pátio recreio

Diante destas diferenças gritantes, e passeando um pouco pelo tempo, podemos entender a jornada de nascimento e crescimento do déficit de autoridade comunicativa.

Lá atrás, no início do séc. XX, temos relatos suficientes pra saber que a educação infantil frustrava mais, era mais rígida em relação às obrigações e bons costumes, e também separava radicalmente o universo adulto dos direitos das crianças e adolescentes.  A imposição de regras era mais intensa e os limites eram claros e bem delineados. Quanto aos direitos, bem, não era recomendável na época que se falasse sobre isso. Tão lenta foi a evolução do tema, que somente em 20 de novembro de 1959, na Assembleia Geral das Nações Unidas, é que representantes de centenas de países aprovaram a Declaração dos Direitos da Criança, a qual foi adaptada da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Usando este cenário, vamos esclarecer alguns pontos sobre a natureza da imposição e suas consequências, pois é o que nos interessa pra entendermos o nascimento e crescimento do déficit de autoridade comunicativa.

Como gosto de dizer, definir regras e limites, seja no que for, tem prioritariamente quatro vias, duas pra quem impõe e duas pra quem recebe. Não que sejam as únicas, mas são as principais. Aqui vou citar de forma bem resumida, apenas o ponto de vista de quem é regrado ou limitado pelo outro, que é o que precisamos para contextualizar nosso tema. Mas fica o convite à leitura do artigo “as 4 vias de conexão da imposição” a quem quiser conhecer o assunto por ambos os lados de forma mais detalhada.

Seguindo, vamos então analisar as duas vias regentes para quem sofre algum tipo de imposição.

                Primeiro, o óbvio desagrado que toda imposição gera em qualquer ser humano medianamente sensato. A imposição liga o circuito de defesa da integridade e faz com que cresça imediatamente a vontade de fazer o contrário. Sempre dou este exemplo. É algo que costumava exercitar em meus workshops. Explico: Ao ver um aluno se dirigindo ao bebedouro eu dizia, num tom mais forte, como dando uma ordem:

- Fulano, eu gostaria que você bebesse água! Pode ser?

As reações eram diferentes fisicamente, mas sempre semelhantes no que diz respeito às sensações observadas. Passado o trote e as risadas, eu perguntava qual a sensação e, vejam, a resposta era sempre a mesma. Todos diziam que apesar da sede que os levava ao bebedouro, tiveram vontade de parar e desistir da água só pra não dar o braço a torcer e se dobrar a uma ordem. É o que acontece naturalmente com o corpo na defesa automática de sua integridade. Esta é a primeira sensação observada.

             

 Já a segunda sensação é um tanto mais complexa. Independente da revolta gerada e do planejamento de como burlar as regras, o que a criança percebe, é a contrapartida de que dentro das 4 linhas impostas, ela estará como dizem hoje, “de boa”. Mesmo que para muitos a guerra interna e a revolta predominem e nunca cessem, pois obedecer significa vender a alma, é sabido que, ao fazê-lo, também evitam problemas, ganham aliados e podem conquistar regalias. É aí que começa um jogo de xadrez na tentativa de realizar o que é proibido.

Dá-se início a batalha por conquista territorial e a criança aprende rápido. Quanto mais aceitar a realidade, mais terá condições de criar manobras para burlá-la e realizar suas vontades não permitidas. Ao contrário, quanto mais revolta e ressentimento demonstrados, mais as regras apertam. Faz parte do jogo e permite que a realidade seja o tabuleiro. Sim, a realidade vivida sem máscaras, como se diz, nua e crua.

No início do século XX, quando famílias definiam regras, se referenciavam muito mais pela disciplina da cultura vigente do que por qualquer conhecimento pedagógico. Não que hoje seja muito diferente. Em primeiro lugar, o que normalmente tinham em mente era evitar problemas que não as tornassem mal vistas socialmente em seu meio. Isto, até certo ponto, era tão ou mais importante do que o próprio bem estar emocional e físico da criança. Digo até certo ponto, pois é claro que os pais se importavam, mas as exigências estavam mais baseado no conceito cultural da época, no que era ou não aceito em sociedade, do que em cuidados propriamente ditos. Quer um exemplo? Lembre da palmatória. Ao que parece só deixou de ser usada no Brasil em meados do século XX.

As regras mais rígidas, queira ou não, acabavam gerando como efeito colateral crianças mais inteiradas com seu papel, que assumiam sua realidade infanto-juvenil com menos constrangimentos e amarras. Uma criança proibida de usar, fazer ou ter a, b ou c, sabia que as outras crianças, com raras exceções, também estariam na mesma praia, e de certa forma, sob as mesmas regras. Assim pedia a cultura e os costumes.

Eram crianças, obedecendo como tal, seguindo regras como tal, brincando e aprontando como tal. Não digo que era mais fácil ou difícil ser criança naqueles tempos, mas afirmo que seu papel, de modo geral era mais simples de ser identificado por todos, inclusive por eles. O que se pode dizer, é que trazia certo conforto no sentido de pertencimento e realidade cotidiana, ainda mais acentuado, se compararmos com os dias de hoje, onde a realidade é preferivelmente substituída, pois não é interessante,  e o pertencimento varia na velocidade dos modismos e redes sociais.

Além desta maior condição de proximidade com a realidade, as constantes frustrações exigiam mais aceitação, ou mais espera, ou ainda melhor, estimulavam o interesse no aperfeiçoamento. Tudo oferecia condições mais propícias ao amadurecimento, e menos atraentes aos carentes, ressentidos e revoltados.

Mesas da sala de aula do aluno

Viviam, bem ou mal, de forma diferente de hoje, quando passaram a se preocupar se seu iphone é 10 e o do amigo é 12, se seu Playstation é 4 ou 5 ou se está bem cotado nas redes sociais, sendo que se não se reinventar com uma imagem adequada ainda corre o risco de ser cancelado.

Não importa aqui o que é melhor ou pior, mas sim o quanto o contato com a realidade cotidiana era intenso, importante, proveitoso e parte dos valores e o quanto hoje não é!

Então se agora viermos de lá pra cá no tempo, vemos claramente que pouco a pouco fomos treinados a nos distanciar da complexa realidade cotidiana e criar um mundo baseado nos iguais, referenciado por nosso próprio umbigo, por nosso próprio estado de carência e por nossa necessidade de revolta com a imperfeição não atingida pelo outros.

Eu nasci no final dos anos 60, percebi e percebo até hoje claramente as diferenças. Não é novidade. Está estampado na nossa cara. Menos limites, menos regras e menos rigidez. Esta percepção não significa que sou contra as mudanças culturais, pelo contrário, sou um liberal, apenas aponto algumas consequências, que sinto precisarem ser vistas com cuidado.

Crianças sentem intensamente menos necessidade de confronto com a realidade e, portanto, perdem a capacidade de entendimento do contexto em que estão inseridas. Já não é mais preciso criar jogos com super manobras inteligentes para jogar com a família e conquistar seu espaço. Basta reclamar e bater o pé pra ter o que se quer.

Também os esforços pra se evitar a frustração são cada vez maiores. A consequência imediata: A criança ou adolescente passa a preferir reclamação ao invés de resolução. Passa a preferir ressentimento ao invés de aperfeiçoamento. Diante de um problema, é preferível reclamar e responsabilizar o outro a procurar uma solução. Diante de algo que deu errado é preferível se vitimizar ao invés de buscar aperfeiçoamento e esperar o momento de uma nova tentativa.

Pense comigo – Será que hoje em dia isto se vê apenas em crianças e adolescentes? Bem, sabemos a resposta.

Sei que a família, a escola, o governo, as organizações sociais, enfim, a sociedade vem se empenhando há tempos no sentido de produzir o tal conforto psicológico, aquela cerca de proteção ao ato de existir em sociedade. Daí a gente pode entender porque é fácil encontrar pessoas de 30, 35 anos de idade agindo como adolescentes e, portanto, com certa falta de habilidade em lidar com a realidade e que mesmo percebendo a necessidade de amadurecimento, tem dificuldade em considerar esta realidade na sua comunicação.

Eu não estou dizendo, de forma alguma, que isto é não saber se comunicar, mas sim, que a comunicação parte de outra base, de outro ponto. O ponto onde o centro é a própria autoimagem idealizada, recheada de seus quereres passageiros e verdades momentâneas. A pessoa mira em algo ou alguém que preencha seu vazio gerado pelo distanciamento da realidade e de si mesma, assume a narrativa deste outro como verdade absoluta e compra essa verdade como sua. Pronto. De forma rápida e fácil se vê aceita, inserida e pertencente a um ideal, criado às pressas, volúvel e instável. 

Apesar de satisfeita, se mantém apta á trocar de galho tão logo o qual esteja apoiada não dê mais tantos likes e autoadmiração.  No primeiro parágrafo usei o termo replicante abduzido. Acho que agora ficou mais claro. E outra coisa, nada de errado com os quereres passageiros e verdades momentâneas, mas sim com sua supervalorização como base para toda narrativa pessoal em detrimento da realidade e do contexto.

Esse “modus operandi” age como um íman que atrai quem não lida bem com frustração e é uma cama macia pra deleite dos ressentidos.

adolescente

E qual a consequência: um grande déficit na autoridade comunicativa, pois as narrativas tem prioritariamente como base a auto imagem idealizada. São direcionadas por uma força um tanto narcísica. É algo como: “Vejo no espelho os meus similares, um pensa por todos e todos se expressam por um”.  É o conforto de ser validado e conduzido. Por isso o termo "boiada". Taí a fórmula para o desconforto psicológico frente aos diferentes. É como se estar em meio a fanáticas torcidas organizadas, mas que não representam apenas times de futebol, mas sim qualquer aspecto da vida social. Está criado o fanatismo por ideias, conceitos, atitudes ou conspirações. E o que acontece quando fanáticos organizados se encontram?

A consequência tá gritando na nossa cara: Uma sociedade abduzida, replicante e polarizada. Uma maioria que se apoia apenas em ideias construídas à sua imagem e semelhança, replica sua narrativa e condena os diferentes. Seguindo este roteiro, individualmente conseguem bater no peito, levantar a cabeça e dar a si mesmos uma grande importância.

Gosto de uma frase do Pondé em seu livro A Era do Ressentimento que diz assim: “A alienação da realidade em nome da nossa autoestima é puro ressentimento”... Perfeito!

Hoje, eu digo nos tempos de hoje, podemos contar nos dedos as cabeças que possuem tal contato com a realidade a ponto de poder construir uma narrativa quase completamente isenta. Afinal, há tempos os indivíduos crescem cada vez mais imersos na absorção acelerada do que não tem nada a ver com suas vidas, e perdem o interesse na manutenção de seus sensos e suas percepções. Essas percepções deixam de ser exercitadas, pois ninguém mais tem tempo pra isso. E como podemos então enxergar claramente a realidade?

A regra é manter a cabeça em alta velocidade e o corpo em grande performance. Sensações apuradas e sentimentos verdadeiros são jogados pra planos inferiores, pois dão muito trabalho, prejudicam a imagem, enfraquecem e fazem perder tempo. Desacelerar por um longo período é quase que proibido. Parar, respirar, contemplar e principalmente sentir, sim, digo sentir mais do que pensar, o próprio caminho e as próprias escolhas, só quando for para obedecer a um impulso de adequação momentâneo, sugerido por algum guru contemporâneo ou por um modismo “lacrando” nas redes sociais.

Certamente observar o contexto vivido foi substituído por julgar, cercar e se proteger. Já o termo "observar a si mesmo" tornou-se uma forma de medir o quanto é necessário criar uma vida plena para ser exibida nas redes sociais. 

Então como esperar que a comunicação seja baseada na realidade? Parece absurdo, mas estamos numa sociedade onde vivemos um nível de observação inversamente proporcional ao que estamos exigindo. Entendem porque mentiras são cada vez mais comuns e tão insistentemente defendidas?

Observem. Primeiro porque quem as implanta, conhece bem a frágil estrutura de contato com a realidade e aproveita-se disso, intencionalmente pra benefício próprio, contando com seus seguidores replicantes abduzidos para apoiá-lo incondicionalmente. Para a grande maioria, fora seus criadores, aquela narrativa inventada será verdadeira e portanto, passível de defesa.

 

Segundo, porque serve como prova de existência e importância social para um indivíduo com ego desestruturado. Como vimos antes e falamos exaustivamente, os indivíduos vem ao longo do tempo deixando de reconhecer seu contexto de vida e o substituem por causas rarefeitas em realidades distantes. Nada mais fácil do que abraçar uma causa que, de verdade, não tem a ver com sua realidade. Assim não comprometerá seu estado de desconexão e não exigirá que olhe para vida como ela é. Ao contrário, uma narrativa distanciada é fácil de sustentar. Porém é imprescindível que gere um lugar de pertencimento, um lugar onde o indivíduo possa existir socialmente e ser visto como alguém que possua uma posição. O ego estará alimentado.

A certeza sustentada e intensamente disseminada garantirá mais alguns dias, meses ou anos de uma falsa sensação de sentido, existência e pertencimento, por isso é agarrada com tanta força, ainda que, de forma completamente inconsciente, o afaste de sua verdade e de sua realidade, tanto mais o quanto dure.

halftone Crowd

Seja como for, o déficit de autoridade comunicativa nos rodeia mais do que nunca. Lembre que ele é consequência e não causa. Queria eu que fosse apenas um simples evento observado na adolescência tardia ou falta de confiança de alguns adultos com dificuldades. Longe disso.  Hoje um vírus chamado “irrealidade” é altamente contagioso e também responsável por mais uma pandemia. Apresenta diferentes variantes: Revoltados de nascença, Ressentidos profissionais e Defendidos de primeira linha. Disseminado pelo mundo, contamina indiscriminadamente, independente de raça, credo, cor ou situação financeira. Está presente em todas as casas em diferentes níveis. Existe o contato superficial que quase não apresenta sintomas, mas cuidado, pois também há uma carga viral intensa. Como então exigir que a comunicação venha de uma base mais sólida.

A boa notícia é que cada ser humano tem a vacina contra o vírus “irrealidade” em suas mãos. Tomá-la é uma questão de escolha e principalmente de coragem. Assim, além de diminuirmos a disseminação do déficit de autoridade comunicativa, cairemos sentados em narrativas mais realistas e aceitaremos melhor nossa própria condição de “SER” imperfeito.

Nos falamos... Um abraço,

Thito Bello

#eucantoavida

Blindagem

Por que nos blindamos emocionalmente?

Sintomas psíquicos e psicossomáticos são cada vez mais comuns e “compreendidos” como “normais em nossa sociedade”. ‘Vide’ a depressão, a ansiedade, a angústia e a síndrome do pensamento acelerado. Porém, essa tal normalidade, identifico apenas como um “aceite coletivo” à manutenção da blindagem emocional. 💥

Melancólico

Então por que nos blindamos emocionalmente?

Porque não é nada fácil se expor, principalmente para si próprio, às dores causadas por eventos traumáticos e dolorosos, além de expor aos outros as fragilidades sentidas e as expectativas afetivas frustradas. 😉

Porém é preciso, pois manter a blindagem é manter-se alheio, negado. 🙉 E a negação gera retração orgânica, impactando a saúde física e mental. 🙈 A negação gera retração social, influenciando relacionamentos pessoais, conquistas e prosperidade. 🙊

A negação blinda a vida. Claro, serve para manter uma certa “homeostase” psíquica, porém é preciso ir além dela. Dar atenção ao sacudir, ao se expor, ter coragem pra assumir e olhar para o que não está bom. Dar o basta para o que vai sendo “empurrado com a barriga” por anos e anos a fio. 😭

Sabemos! Mexer em eventos mal resolvidos traz a dor de volta, vívida no presente tal qual no passado. É difícil! 🤯

Porém é importante frisar que, em casos de negação permanente, a identidade tende a ficar cindida e o sujeito passa a criar realidades plausíveis e personalidades “brilhantes”, mas absolutamente desconectadas de si mesmas para “suportar-se” e também à vida. 😶

Augusto Cury usa a metáfora do teatro, o nosso Eu, que representa a nossa capacidade de escolha, e aponta a necessidade de retirá-lo da plateia e colocá-lo no palco da mente para poder se tornar o alvo principal do próprio foco. 🙃

Nas palavras dele, o Eu sabe gritar no mundo de fora, mas se cala no terreno psíquico. Faz, normalmente, o contrário do que deveria. Quem não tem coragem para se mapear tem grande chance de ficar intocável.

Um abraço, Andrea Fray

Comprometimento

Comprometimento consigo mesmo.

O que é de fato?

Mulher com tablet

Comprometimento é uma base estrutural de conhecimento a ser assimilado e praticado, pois para qualquer coisa que escolhamos fazer na nossa vida é preciso dispor dele. O comprometimento vem do latim ‘compromissos’ e representa o ato de fazer uma promessa recíproca. Partindo deste significado podemos dizer então que, comprometimento consigo próprio é prometer algo a si mesmo.

Por isto, te pergunto agora:

Você está se comprometendo com o quê para consigo mesmo nesse momento? COM O QUÊ VOCÊ TEM SE COMPROMETIDO PARA RETORNAR O QUE QUER PARA VOCÊ MESMO? Você tem sabido gerir os seus compromissos? Você tem conseguido se envolver com atividades e atitudes que geram retorno positivos para si mesmo?

Comprometer-se é diferente de cumprir. Comprometer-se tem a ver com envolvimento. Cumprir é fazer. Ambos bons, porém pode não ter relação com o comprometimento. Cumprir pode ser mais um check verde na sua lista de pretensões e obrigações. Enquanto é intrínseco ao comprometimento a relação de retorno, do ‘devolver à si’ mesmo a satisfação e energia empregada. Comprometer-se consigo é poder ter conhecimento suficiente sobre seu universo próprio para poder fazer escolhas e realizações apropriadamente legítimas. Aí sim, quando se une cumprimento e compromisso...Uau! Integram-se recursos para grandes realizações e retornos.

 

Em parte, a falta de lucidez sobre a natureza do comprometimento vem em função da educação moral-cultural-religiosa que distorce o conceito do COMPROMETIMENTO e do FAZER POR SI MESMO E PARA SI MESMO, associando este ato algo ruim.

Normalmente a temática do fazer por si mesmo, vem munida por uma CRENÇA COLETIVA CULTURAL pesada onde o fazer por si e para si só é ‘’permitido’’ se for cumprido com esforço, só havendo valor ou reconhecimento social se, o fazer por si, estiver correlacionado ao esforço. Notamos isto em frases usais do tipo: “Estou me esforçando...’’, ‘’Estou na luta’’, ‘’Sou um guerreiro (a), por isto mereço chegar lá!”

 

Há também a outra vertente coletiva-cultural distorcida sobre o conceito do ‘ fazer por si e para si’, que parte de julgamentos e críticas sobre o individuo: ‘’ você é muito egoísta’’, ‘’você só pensa no seu humbigo’’, ‘’Você tem que doar para o outro, se colocar no lugar do outro, ajudar e olhar para o outro’’ e então gera culpa.

 

Não digo aqui que estas frases estejam completamente equivocadas, no entanto, quando se trata da aplicação delas no contexto relativo a aplicação da energia do comprometimento para consigo mesmo, elas podem impactar negativamente, desviando primeiramente o sujeito de si mesmo e então de sua conexão com o sentido de sua realidade e bússulas internaa e, por consequência, acabar por bloquear a energia potencial para fazer girar o seu envolvimento para dar à individualidade o retorno à si mesma.

 

E, como já disse, por não termos instruções emocionais e comportamentais suficientes durante a formação de personalidade somando-se interferências que aprisionam a consciência na ignorância e impedem a gestão pessoal sadia, falha-se com o autocomprometimento na fase adulta.

Venho então chamar a atenção para o saber sobre si.

Saia de praia

É preciso saber trabalhar na inteligência da natureza acerca da individualidade. É preciso aprender a lidar com ela em si. Lembrando que homem e natureza são uma mesma unidade. O homem é inteiramente Natureza em expressão humana. Assim, poder trazer à consciência este seu todo íntegro é essencial para que seja possível sua aplicação no cotidiano, utilizando do comprometer-se consigo como manifestação da Inteligência em seu poder de realização.

É preciso lucidez sobre o que é comprometimento, para depois ampliar a percepção sobre com o que você está se comprometendo de forma inconsciente e reajustar a força para onde sua consciência realmente almeja, para então, ter condição de retornar à si mesmo o que de fato QUER. Sempre existe, antes de qualquer ação, o nível de envolvimento que você tem consigo, com o seu todo, esta é a base por onde tudo o que existe e existirá, acontece: o comprometimento.

Suas REALIZAÇÕES DE VIDA, bons ou maus relacionamentos, doenças, escolha e profissão. O envolvimento com o que você emana está diretamente relacionado com o retorno que você terá - comprometimento. É uma LEI DO UNIVERSO.

Um abraço,

Andréa Fray.

Desprezo

O desprezo é um rompante da insegurança

Sacar um desprezo desferido é inicialmente tão complicado quanto compreender os diferentes tipos de choro de um recém-nascido. Como entender os motivos de quem não fala? Como entender a sutil aproximação e também o sutil afastamento de um ser que às vezes se mostra interessado em você e às vezes absolutamente não?!?

O choro expressa, a partir de todo o recurso que o bebê possui, a necessidade de algo que lhe é vital. O desprezo expõe uma resposta desprovida de inteligência emocional, na qual o ser utiliza da não expressão para demonstrar um arcabouço de sentimentos velados com intenção de ferir pela falta. Pode ser um familiar, um(a) parceiro(a) sexual, um(a) amigo(a), um(a) colega.

Quanto ao entendimento do choro, a vivência e o instinto orientam. Assim como a boa observação de acordo com frequência, intensidade, horários em que ocorrem e variação tonal do bebê… Vai ficando fácil entender esta linguagem e o relacionamento flui, ainda que impreciso. Quanto aos desprezos “velados”, os motivos são sempre imprecisos e o relacionamento segue aos solavancos, com caraminholas na cabeça e frustração.

Disputa família

Portanto, para entender a situação do desprezo, sugiro que se questione sobre a necessidade e a vantagem que a pessoa possa ter ao:

  • Manipular.

  • Ser aceita socialmente, independentemente de aceitar.

  • Querer sua admiração.

  • Cumprir um papel (familiares, por exemplo).

  • Querer algo muito específico que você tenha a dar em alguns momentos também específicos.

  • Não saber declarar fim definitivo à relação.

  • Ter medo de solidão.

  • Ter admiração exagerada por você e timidez ao revelá-la.

  • Comparar-se, diminuindo-se ou elevando-se.

 

O que todos têm em comum? Insegurança!

 

Importante frisar: Os mesmos motivos acima servem para você também compreender o porquê você ainda pode esperar ingenuamente algo de uma pessoa inconstante afetivamente e o porquê de mantê-la em sua vida.

Meu apelo é: segure-se em si!

Porque ao “segurar”, se apegar em algo ruim e disfuncional, você não está se segurando no que mais importa e realmente estabiliza a segurança: você no melhor que pode se dar!

Invista e acredite no melhor pra si. Visualize e imagine -se no melhor, vista esta nova roupa. Integridade e dignidade.

Rever quereres e permissões é libertador. Abra espaço para um novo você e a possíveis novas pessoas que realmente possam compartilhar e prezar pela sua presença e pelo seu valor.

Um abraço, Andréa Fray

4vias

As 4 vias de conexão da imposição

Você já parou pra pensar que a imposição de regras e o dever de obediência estão presentes em praticamente todos os movimentos do ser humano? Afinal, a ideia da existência de regras não está apenas atrelada à vontade de controle, mas também é uma forma de manutenção do bom funcionamento tanto de coisas quanto de pessoas. É aí então que nos entregamos prazerosamente ao controle de algo ou alguém, excluindo de nossa realidade que estamos sendo comandados.

Antes de tudo, gostaria de dizer que sou uma pessoa que particularmente gosto de regras, não muitas, mas gosto. Segundo minha esposa, gosto mesmo é de controle. Mas o que importa é que pude observar esse tema de vários ângulos e esclarecer alguns pontos que podem ajudar. Este texto explica como uma regra imposta se comunica simultaneamente por quatro vias diferentes. Sendo duas com quem a impõe e duas com quem a recebe. Para chegar lá, vamos entender como funcionamos diante dos vários modelos de regramento a que estamos sujeitos.

Em primeira instância, somos radicalmente obedientes aos nossos equipamentos de uso cotidiano. Mesmo porque reclamar com eles das regras impostas de nada adianta. Apesar de já ter visto meu filho reclamando com o vídeo game, em pouco tempo ele aprendeu que caso não siga suas regras, não vai se dar bem. Assim como preciso seguir as regras de uso do computador utilizado e do aplicativo no qual agora digito, também é imprescindível que eu siga as regras de utilização de todo e qualquer objeto que tenha sido criado para uso do ser humano. De um aparador de unhas até um avião, tudo tem um modo certo de operação pra que funcione adequadamente. Caso eu não concorde, azar. Ou me dobro ou desisto de usar.

Mulheres Young & Devices

O que é possível se observar com isso? Que tudo bem sermos controlados no uso das coisas quando esta posição nos trouxer benefícios. Chamamos isso de treinamento das habilidades. Também é levado em conta, que se não obedecermos, não haverá ninguém sobrepujando nossa integridade ou nos penalizando em qualquer instância. A penalização, quando existir, virá da própria frustação, ou em não conseguir usar, ou em danificar o equipamento, mas ninguém precisa saber. Não é mesmo? Eles são como mestres de uma dimensão superior, pois nos doutrinam sem dar ordens e principalmente nos ensinam sem nada dizer. Sem julgamento, insistência ou truculência nos fazem aprender com o próprio erro. Se fossem vivos seriam “os evoluídos”. Você quer usar? Empenhe-se, treine bastante, até faça cursos, repita quanta vezes for necessário e aprenda. Do seu jeito e no seu tempo. Não é assim que aprendemos a dirigir? Pois bem, o que fazemos na verdade é seguir a risca as regras necessárias para o funcionamento adequado do automóvel.

 

Qualquer regra bem cumprida ou limite bem absorvido, nada mais é do que um exemplo de um bom treinamento mental e corporal de repetição. 

 

Saltando para o próximo nível, temos as regras e imposições coletivas para boa convivência entre as pessoas de uma mesma família, de um mesmo condomínio, de uma mesma cidade e assim por diante, cada qual com suas respectivas diretrizes, para tentar manter, pelo menos na teoria, o bom funcionamento geral e o bem estar individual. Assim como acontece com os objetos, a ideia dos responsáveis por implantar regras é vender uma sensação satisfatória a quem as abraça. Mas como as pessoas que impõe regras, em sua maioria, não são tão “evoluídas” quanto os objetos, precisam ensinar aos outros, de forma rigorosa, como cumpri-las imediatamente. 

 

Basta nascer, que as regras dão inicio e o treinamento começa. É desnecessário que eu diga aqui, sobre “o caminhão” de habilidades que uma criança é treinada a desenvolver, ou seja, um “caminhão” de regras e limites que são impostos desde o nascimento até a adolescência, para sua adequação ao ambiente e bom funcionamento do núcleo familiar. Da mesma forma, é desnecessário falarmos sobre a quantidade de regras e limites a que estamos sujeitos na vida adulta. Podem ser regras de comportamento moral ou social, no ambiente de trabalho ou familiar, regras de seu condomínio, de seu bairro, cidade, estado ou país, com diferenças gritantes no modo de aplicação e na intensidade da penalização em caso de não cumprimento.

Não estamos de forma alguma falando sobre certo ou errado. O que nos interessa é mostrar como absorvemos organicamente as regras e limites. Então vamos lá!

 

A ideia de liberdade se torna absurda quando olhamos por este ângulo. Somos tão acostumados a regras e preenchidos por limites que só notamos sua existência quando ultrapassam uma linha de incômodo estabelecida por nós mesmos, em diferentes níveis para cada aspecto. Sabemos que essa linha é tão individual quanto um cpf e é a partir dela que julgamos se algo é imposto ou não. Portanto, quanto mais alta esta linha, mais as regras e imposições serão completamente despercebidas no seu dia, ou por não serem consideradas uma imposição ou por, mesmo sendo impostas, preferirmos escondê-las em baixo do tapete. Fato é que, em sua origem, regras sempre surgem para evitar incômodos.

O lado que impõe regras vive uma dicotomia tanto quanto o lado que as deve cumprir. Vamos usar de exemplo um núcleo familiar, sabendo que esta ideia serve analogamente para núcleos maiores. Os aspectos que envolvem poder, regras e limites vistos numa relação entre familiares, também estão presentes no mundo corporativo e no mundo político. Então perceba que, ao longo do texto, onde estiver escrito criança ou adolescente, sinta-se a vontade para entender como “colaborador”, “assistente” ou qualquer um que, na prática do exercício de suas funções, deva obedecer regras. Já na nomenclatura para quem as impõe, fica mais simples, vamos chamá-lo de controlador, o que serve para qualquer instância.

Vamos agora detalhar as vias de conexão da imposição sentidas pelo lado de quem aplica as regras, ou seja, o controlador.

Impor uma regra é como impor um desafio, não só ao outro, mas também a si mesmo. Mostra ao controlador sua capacidade de planejar e implementar o que se pretende. No nosso exemplo familiar, como regra geral é intencionado o conforto psicológico trazido pela boa convivência entre todos e o bom funcionamento das práticas cotidianas. A cabeça da família vence seu desafio á medida em que as coisas caminham como esperado.

Pensamento do homem no sofá
reunião

A primeira via de conexão da imposição do controlador é imediatamente ligada ao prazer e ao conforto pessoal. Independentemente do motivo e nível disciplinar, o que se busca primeiramente é bem descrito pelas frases que toda criança já ouviu: - Obedeça. Não me traga problemas. Ou  – Eu já falei, estou mandando! Ou seja, a regra quer mostrar à criança “o seu devido lugar” e traz como primeira sensação o conforto gerado pela ideia de manutenção do controle, ao se evitar ao máximo qualquer possibilidade de incômodo a curto, médio ou longo prazo. Repito, pela ideia, já que sabemos que a intensão nem sempre bate com a realidade. Mas quando falamos em manutenção do controle, obrigatoriamente criamos dois pontos de oposição. O controlador e o controlado.

Quando se pretende mostrar ao outro um “devido lugar” é porque na verdade se pretende deixar claro o seu “próprio lugar”. O lugar de quem manda. Definir os papéis é importante no que diz respeito a qualquer tipo de imposição. Claro que, como sabemos, o ser humano rapidamente se enche de prazer no exercício do poder e costuma passar, na maioria das vezes, dos limites que ele mesmo criou. Embebido da própria vaidade, podem acontecer casos em que o controlador faça com que as regras abandonem o motivo pelos quais foram criadas, e passem a atendê-lo apenas como ferramenta de manutenção de seu poder. Ainda assim temos a primeira sensação como válida. Apesar de se conectar por outros meios, o prazer e o conforto pessoal permanecem vivos.

A segunda via de conexão que se monta com a imposição, como eu já disse, simultânea a primeira, é uma consequência do quanto a regra mostra-se realmente eficaz. No momento da imposição, já existe a ideia de se engrandecer como se fosse o criador de um grande e engenhoso plano para otimização do funcionamento do núcleo familiar, o qual que trará como retorno, ganhos na qualidade de vida e bem estar de todos. Então, se os limites e regras foram bem obedecidos, a sensação buscada foi alcançada.

Com isso se repete aos ventos o quanto seu feito foi adequado ao comportamento da criança e como será benéfico e de grande valia. Com certeza os amigos e vizinhos poderão aprender como se faz. O ego inflado recebe os aplausos de si mesmo, sendo parabenizado pela missão cumprida e pelo bem praticado a quem ainda não tem condições de se cuidar. Caso a resposta não seja a contendo, as regras serão enrijecidas até que proporcionem a sensação buscada.

 

O mesmo acontece no mundo corporativo. Impõem-se regras e orientações a respeito dos limites, com o objetivo de adequar o comportamento dos colaboradores ou da equipe comandada, ao perfil desejado pela empresa, para que as metas sejam batidas. Além disso, podemos ainda observar que o reconhecimento gera frutos adicionais, como uma promoção e uma maior condição de controle. Lembro que não estou falando sobre certo ou errado, mas sim das vias de conexão do indivíduo com os aspectos da imposição de regras. Por isso, é imprescindível que se mantenha a observação no risco de se confundir autoridade em pró do bem geral, com autoritarismo em pró da manutenção do próprio poder, pois ambos estão presentes na mesma via de conexão. Ambos os modos trazem orgulho e massageiam o ego do controlador.

Homem no terno

Vamos agora detalhar as vias de conexão da imposição sentidas pelo lado de quem se vê obrigado a obedecer.

Na primeira, transita o óbvio desagrado que toda imposição gera em qualquer ser humano medianamente sensato. A imposição liga o circuito de defesa da integridade e faz com que cresça imediatamente a vontade de fazer o contrário. Sempre dou este exemplo. É algo que costumava exercitar em meus workshops. Explico: Ao ver um aluno se dirigindo ao bebedouro eu dizia, num tom mais forte, como dando uma ordem:

- Fulano, eu gostaria que você bebesse água! Pode ser?

As reações eram diferentes fisicamente, mas sempre semelhantes no que diz respeito às sensações observadas. Passado o trote e as risadas, eu perguntava qual a sensação e, vejam, a resposta era sempre a mesma. Todos diziam que apesar da sede que os levava ao bebedouro, tiveram vontade de parar e desistir da água só pra não dar o braço a torcer e se dobrar a uma ordem. É o que acontece naturalmente com o corpo na defesa automática de sua integridade.

Isso mostra que uma regra imposta será mais bem absorvida, quanto mais longe estiver de ser reconhecida como imposição. Como é que é? Isto mesmo. Como está dito no início deste texto. Para que uma regra mostre total eficiência, as pessoas que devem cumpri-la precisam primeiramente perceber os benefícios recebidos. Quando a base da imposição se faz sobre um retorno palpável, cumprir a regra se torna uma moeda de troca e com o tempo, uma necessidade que traz vantagens pessoais, travestida de benefícios a algo maior. Digo travestida, não por que ache que não exista o benefício coletivo. Sim, com certeza existe, mas para uma grande parte, sinceramente falando, a narrativa em prol do coletivo se sustenta apenas enquanto a vantagem pessoal existir.

Mas considerando que o pensamento na coletividade seja tão real quanto o interesse pessoal, temos que o ato de controlar passa a ser observado apenas e tão somente como uma orientação.

Já a segunda via de conexão entre a imposição e quem deve obedecer, é um tanto mais complexa. Vamos imaginar o pior dos casos e perceber que mesmo assim há algo de positivo a ser considerado.

Refletindo acerca da imposição de uma regra que não seja bem aceita, imaginemos uma criança ou adolescente descontente por não concordar, e ressentido pela forma autoritária com a qual foi colocada. Normalmente, caso não consiga converter a situação na base da conversa, ou fica de forma involuntária dentro do universo pertinente à regra, reagindo com descontentamento e revolta a cada movimento limitado, ou de forma perturbada, tenta estar de fora burlando aspectos que puder, até, se tiver idade, sair de casa, o que seria como colocar o cargo à disposição no caso de um colaborador.

Mas mesmo com revolta ou regularmente planejando como burlar as regras, o que se percebe, é a contrapartida de que estando dentro das 4 linhas impostas pela regra, a criança estará como dizem hoje, “de boa”. Não nos importa aqui o quanto é certo ou errado, justo ou injusto, mas lembrando da frase que traz o termo – “...por a criança no seu devido lugar” – temos que seu significado gira em torno do fato de que a regra cerca, impõe limites, e mostra um determinado lugar de comportamento, que mesmo não sendo escolhido e aceito, é onde na maioria das vezes, pode-se transitar com segurança.

Mesmo que para muitos a guerra interna e a revolta predominem e nunca cessem, pois obedecer significa vender a alma, é sabido que, ao fazê-lo, também evitam problemas, ganham aliados e podem conquistar regalias. É aí que começa um jogo de xadrez, onde se tenta aparentar estar em apuros enquanto elabora e depois executa a grande jogada, ou seja, realizar o que se tem vontade mesmo sendo proibido.

Dá-se início a batalha por conquista territorial e a criança aprende rápido. Quanto mais aceitar a realidade, mais terá condições de criar manobras para burlá-la e realizar suas vontades não permitidas. Passa a ser vista como cumpridora de regas e recebe certas vantagens com isso. Ao contrário, quanto mais revolta e ressentimento demonstrados, mais as regras apertam. Faz parte do jogo familiar e permite que a realidade seja o tabuleiro. Sim, a realidade vivida sem máscaras, como se diz, nua e crua.

O que temos então? No final da linha, a condição vivida direciona a pessoa ao contato com suas reais forças e possibilidades. Ao confronto com sua realidade, e com as consequências de suas ações. Tornam-se adultos acostumados a tomar decisões. Adultos com mais iniciativa e mais condições de avaliação de contexto, já que isto é derivado do contato com a realidade do momento.

 

Sabendo avaliar o contexto, suas decisões acabam por beneficiar a coletividade. Tornam-se pessoas mais seguras, que se apoiam nas próprias forças e na própria opinião. Dificilmente serão replicadores abduzidos de ideias coletivas. Na verdade, pensam a partir da realidade do contexto vivido. Esta segurança estabelece à pessoa um lugar de pertencimento, sem a necessidade de se enganchar num pacote pronto recheado com alguma ideia coletiva.

Homem e colegas em reunião

Mas existe o outro lado. Percebemos que adultos que foram extensivamente mimados e pouco frustrados, tem menos poder de decisão e mais facilidade em desviar-se da realidade para não confrontar suas dificuldades. Lembrem dos “mestres” objetos do início deste artigo.

 

Quando as pessoas envolvidas, além da necessidade, passam a sentir prazer, a imposição deixa de existir como tal e a regra torna-se mais um desafio a ser exercitado. Nesta fase, em alguns casos, pode-se observar até mesmo um frenesi contagiante, que leva alguns obedientes a se tornarem controladores. Ficam tão envolvidos emocionalmente que passam a amplificar a regra, replicando-a abduzidamente e agindo de forma mais impositiva do que o controlador original. O pouco contato com o contexto da realidade dificulta a existência autônoma. Adultos assim buscam continuamente um conceito, uma forma pensamento coletiva, uma ideia a ser praticada, a qual possam se prender e por ela ser direcionado. Seu sentimento de existência e pertencimento fica atrelado a estar enganchado numa ideia maior.

Percebam que o cerne dessa narrativa pode sair do âmbito familiar e ser também aplicado ao universo corporativo ou político. Claro.

Vimos então que a imposição pode ser tanto aplicada quanto recebida de forma mais proveitosa. Já que, como vimos no início do texto, vivemos cercados de regras por todos os lados, podemos sempre escolher a forma mais adequada e positiva de estabelecer regras, e o jeito mais inteligente, confortável e proveitoso de viver com elas. De qualquer forma, aprenda à jogar xadrez!

Nos falamos... Um abraço,

Thito Bello

#eucantoavida

Filhos

não puna seus filhos pelos seus comportamentos

 

Então, imaginem vocês, como esse processo de aprendizagem se dá nas crianças, totalmente disponíveis a receber informação? 

 

E por que isto acontece?

 Porque é vital como mecanismo de sobrevivência biológica e social.

Pai e filhos na praia

Porque crianças ainda não têm filtros racionais para discernir o que lhes cabe, e, sensivelmente captam o entorno, nesse caso, o contexto emocional do ambiente onde vive e, principalmente o âmago afetivo-comportamental de seus cuidadores, que são para eles a fonte referencial de adequação à vida. Com isso posto, preciso que fique claro que a sistemática toda de espelhamento, o tal mecanismo de projeção que citei no início do texto, é profundamente orgânica. Vejam!

O estímulo do entorno é captado pela rede neural da criança que irá sendo formada cada vez mais a partir de um referencial afetivo com seus pais-cuidadores. Estímulo a estímulo, os neurônios montando novas redes de informação que estruturarão e modelarão a elétrica orgânica, de modo que as sinapses contribuam com as respostas desse indivíduo ao ambiente, e estes dizem respeito aos movimentos concretos de corpo no que concerne principalmente aos sistemas nervoso e imunológico. Assim, fala, tom de voz, aptidão, agilidade, emoção e comportamentos serão consequências de estímulos específicos captados em profundidade nuclear, ou seja, as crianças contém em si o âmago desses padrões comportamentais por eles estarem instalados em sua cognição (mente e psique) de forma vital. E é assim que repetem/repetimos, como que por instinto, alguns comportamentos.

“A brincadeira da vida é séria”, e a responsabilidade aos nos tronarmos pais, imensa!

Bom, e é aqui que a sistemática de aprendizagem acaba, invariavelmente, por gerar um espelhamento natural e orgânico entre pais e filhos, reforçado cada vez mais pela tendência genética.

O entendimento dessa dinâmica toda é essencial para que possamos conduzir uma educação mais sincera e humana. Pois, sem essa consciência, o que normalmente ocorre na educação familiar são a punição e a reprovação de comportamentos. A falta de acolhimento e a aceitação da natureza humana evidenciada nos filhos. Vemos, assim, ineficientemente, pais condenarem e culparem seus filhos por atitudes, hábitos, vícios e cultura transmitidas aos seus filhos pelo exemplo que eles mesmos dão. Querem interromper algo enquanto alimentam aquilo. Precisamos de uma nova consciência para este novo mundo.

Pai e filho

Mas você me pergunta, principalmente aqueles que ainda não tem filhos: não é obvio? Perceber que os pais executam o mesmo que condenam?

E eu te digo: NÃO!

E você: Mas por quê?

Porque a maior parte de nossos comportamentos reside em nosso inconsciente. Grande parte do que se ensina é transmitido de forma inconsciente. E inconscientes, os pais somente irão enxergar os comportamentos que racionalmente não aprovam quando seus filhos os reproduzem. A sensação é de incômodo. Lembrem-se, sensação de incômodo é sempre um sinal de alerta, indicando oportunidade de reavaliação interna.

E, quando a criança incomoda, o que acontece, segundo a cartilha da velha educação? Uma intervenção ‘punitiva’, em vez do acionamento do mecanismo reflexivo sobre a real origem daquele comportamento. Mas como aplicar uma nova educação?

É preciso que a dinâmica natural de espelhamento fique clara aos pais para que eles, revisitando-se, modifiquem em si mesmos aquilo que esperam alterar em seus filhos. Essa é a sistemática dos relacionamentos. Não há outra via para uma educação mais coerente e efetiva, e relações mais saudáveis entre os entes queridos.

Precisamos de uma nova educação para um novo mundo!

Mãe e filha trabalhando

Pais-cuidadores, seus filhos são consequências de suas estruturas biológicas, cognitivas e comportamentais. Atentem-se principalmente às crianças de até 7 anos de idade, nas quais o espelhamento fica mais evidenciado, porque elas ainda não contam com repertório de máscaras sociais e disfarces emocionais.

Pais, seus filhos entendem o estímulo punitivo quando bem aplicado, mas não o repúdio por meio delas ao que vocês são e praticam. Isso gera revolta! Não adianta “secar o chão e não fechar a torneira”. É preciso que atentem-se a vocês!

Olhar-se no espelho a todo o momento é o convite feito por nossos filhos com suas existências. Consideremos como algo insuportavelmente oportuno, pois eles facilitam, se aproveitarmos, o nosso desenvolvimento, proporcionando a maior chance de obtermos clareza sobre nós mesmos para ajustar o que for preciso.

 

Atentem-se a vocês! A eficiência da mudança comportamental está na autoconsciência, na ampliação de percepção sobre si mesmo, na aplicação da força de ação sobre as escolha que se faz perante a própria vida. Cuidem de suas tendências genéticas e epigenéticas. Explorem-as e, principalmente, conversem com seus filhos sobre a dinâmica inevitável do espelhamento, incentivando-os aos comportamentos que julgam os melhores, os frutíferos.

A educação efetiva e verdadeira mudança dos filhos exigirá a mudança de suas fontes constituintes referenciais.

Um abraço. Andréa Fray

            É isso mesmo. Não há erro no título, nem na intenção da frase. Este texto tem por objetivo atuar como um alerta! 

A partir de um breve apanhado dos conceitos de genética, epigenética, teoria de aprendizagem e do mecanismo de projeção psicológico, venho chamar a atenção de pais para os seus próprios comportamentos de modo que a tempo os corrijam em si mesmos e não naqueles que os imitam, seus filhos. Vamos lá?

É sabido que filhos herdam a genética de seus pais, porém, tão importante quanto, herdam a sua epigenética, ou seja, a carga cognitiva e comportamental constituidora da personalidade, aquela que diz respeito ao modo de um indivíduo interpretar o mundo e lidar com a vida, ou seja, herdam a 'cultura emocional' dos cuidadores.

As teorias de aprendizagem de Piaget e Vigostky demonstram ser a imitação um dos mecanismos de aprendizagem mais primários e ininterruptos que existem, ou seja, é fundamental para estruturação de novos hábitos e acompanha o indivíduo em toda a sua trajetória. Mais um dado relevante sobre incorporação de dados é a carga afetiva envolvida no momento da absorção e designio da vontade, pois quanto maior for, mais será impressa e registrada na memória.

Autorresponsabilidade

autorresponsabilidade:

por que ela impacta sua vida?

Ao Ar Livre no outono

Por que não somos autorresponsáveis?

 

Tendemos a trabalhar a autoconsciência a partir de um mecanismo que chamo de ‘corriqueiro’. Ou seja, o que se passa em nosso universo íntimo vai ao longo do tempo parecendo tão comum e corriqueiro… E é da natureza humana lidar com o corriqueiro de modo automático. Faz parte do funcionamento neural na ancoragem de aprendizados e também como modo de economia de energia… Desse modo, o que acontece na prática é o desligamento da atenção focada e a ‘assimilação’ de tal conteúdo como se já o dominássemos. Neste caso, o ‘TAL’ conteúdo seria o EU EM SI MESMO.

 

Sim!

 

Este EU MESMO, rico em potenciais natos e cheio de vontades, claro, também de disfuncionalidades e identificações com valores externos… Mas que passa a ser apercebido TAL qual UMA música de fundo num café. E é!

Normalmente é assim a condução da vida pelos humanos, com o eu no automático, respondendo aos eventos de modo primário, instintivo até. Dessa forma, passando ou sobrevivendo à vida aprisionado, normalmente a loopings hipnóticos, ou seja, revivendo e alimentando traumas e para enfrentá-los, contando apenas com os recursos apreendidos na primeira infância e adolescência, com os valores morais e com as respostas emocionais antigas dadas aos traumas ou eventos quando em suas origens.

 

O que acontece é que as impressões traumáticas foram vivenciadas na primeira infância e quando o indivíduo realmente é um tanto limitado em referenciais para conduzir sua percepção de forma efetiva e também é limitado pela própria autoridade.

 

Quando revivemos os mesmos traumas e os alimentamos na vida adulta, normalmente também revivemos a resposta emocional dada a eles… Sem a clareza de que a criança cresceu e que agora se pode e precisa adquirir NOVOS RECURSOS para evoluir.

Avise sua criança que ela cresceu!

Mas, então, o que é autorresponsabilidade? É mais que um conceito. Autorresponsabilidade é um estilo de vida, onde você é responsável 100% por tudo que acontece com você. 

Responsabilidade, segundo o dicionário da língua portuguesa, significa o dever de se responsabilizar pelo próprio comportamento ou pelas ações de alguém; obrigação. Comportamento da pessoa sensata; sensatez. Natureza ou condição de responsável, que assume suas obrigações. DESTACA-SE nessa descrição os termos DEVER e OBRIGAÇÃO, duas palavras das quais normalmente a maioria das pessoas querem fugir – e você sabe por quê? Porque estão relacionadas à emoção de culpa e de punição associadas a memórias da primeira infância, onde o indivíduo está recebendo suas lições de adequação moral e social e também internalizando as relações afetivas envolvidas às ordens: incapacidade x capacidade, aprovação x desaprovação, desprezo x acolhimento.

Mãe e filho na cozinha

Tenho um exemplo de um caso, muito simples, que exemplifica exatamente:

 

Uma mãe com seu filho em sessão. O filho, de 7 anos, disse que se sentia muito mal de não arrumar a cama dele direito. E a mãe comentou que parte da educação que ela propõe inclui iniciativa e participação nas tarefas da casa. Arrumar o quarto pela manhã é uma delas. Ela disse que começou o ensinando, depois ajudando, depois, deixando com que ele arrumasse do jeito que desse, e aí começaram os ‘desleixos’, segundo ela, e o filho dizia ‘Estou fazendo o meu melhor’… Claro, disse a mãe, “Ás vezes, ele tem um comportamento de preguiça e depois de muitas vezes explicar e ajudá-lo no processo, ele ainda parecia demonstrar pouco interesse e eu espero que ele faça como eu disse que tinha de fazer."

Como disse, é um exemplo simples, mas que expõe um mecanismo que poderia reforçar a incapacidade e frustração quanto ao si mesmo, caso a mãe não tivesse se atentado a tal sentimento da criança e a estimulasse a fazer o seu melhor, sem julgá-la ou taxá-la.

 

Ambos conseguiram resolver esta dinâmica retroalimentativa de frustração, pois a mãe também passou isto na infância, mas de modos mais humilhantes. O resultado foi ótimo! O filho passou a arrumar a cama muito melhor do que se esperava, e a obrigação passou a ser gostosa, ou seja, agora, um reforço da capacidade, um momento prazeroso de conquista do melhor.

Tudo o que o filho queria era a aprovação da mãe e a obrigação o levava a sentimentos ruins, porém ele teria de se guiar pelo referencial da mãe para conseguir aprovação e afetividade e desproveria-se do próprio referencial… assim, obrigação, incapacidade e frustração estariam sempre juntos – seria impossível resolver.

Notamos nesta historinha simples e cotidiana nas famílias uma situação relacionada a dever/obrigação geradoras de sensação de incapacidade e de culpa. Isto tudo tem a ver com autorresponsabilidade. Voltando ao significado…

Etimologicamente, a palavra responsabilidade vem da palavra RESPONSUS, do particípio do passado de RESPONDERE, ou seja “responder, prometer em troca’’, RE – de volta, para trás, mais SPONDERE ‘’garantir, prometer’’.

Aí fica mais evidente o que coloquei acima, onde a resposta a um evento é uma promessa que garante algo, logo, se você cresce com um senso prejudicado e desviado de resposta, sempre garantirá um sentimento x ao evento que a exige.

 

Atualmente a responsabilidade é significada por muitos terapeutas como a habilidade em dar respostas a si mesmo. É muito provável que para compensar o senso de obrigação e punição advindos do uso sacrificado culturalmente do conceito, onde responsabilidade está associada a dever e obrigação e punição.

 

Mas, então, o que é uma habilidade? É uma característica ou particularidade daquele que é hábil; que possui capacidade, destreza, agilidade, vem do latim, habilitatis. Habilitação para…

 

E por quê?

 

Vamos lembrar de que cada um de nós advém de uma trajetória específica de assimilações da realidade e então codifica o eu e a sua própria capacidade a partir da educação, da interação com o meio e das respostas que dá a partir desta leitura.

Homem de ajoelhamento

Uma pessoa pode ter ouvido dos pais que ela sempre perdia tudo… A outra que era muito ordeira… A outra, as duas informações, e a partir delas foi criando aspectos de identificação… Sabe aquele tal ‘’EU SOU ASSIM’?

 

Ele diz respeito à identidade ou ao ego criado por conta da identificação com uma informação recebida de alguém(ns) do entorno relacional e também fortalecido pelo modo próprio de se sentir o dado/característica diante do evento e diante da afetividade e aprovação X desaprovação com os pais/cuidadores. Assim, é gerada uma resposta, um comportamento, ou seja, uma habilitação para modelar a sua RESPOSTA EMOCIONAL ADAPTATIVA.

Então quando se diz eu sou assim, não quer dizer que a pessoa seja assim, mas que ela está identificada com tal característica, normalmente permitida, habilitada pelo referencial externo ‘VOCÊ É ASSIM’. O referencial externo é muito importante, o que cito como A DIALÉTICA DO SER, PORÉM, NADA SE COMPARA À HABILITAÇÃO DO EU PARA CONSIGO MESMO, LIBERTA DA HABILITAÇÃO EXTERNA, muitas vezes, ignorante e até manipulatória.

 

Quantos casos de pessoas atendi que vinham trabalhar seus estigmas. 

 

– "Sempre me disseram que sou muito egoísta", a pessoa dizia.

Resultado:

Esta pessoa, para provar o contrário, na tentativa de habilitar o não egoísmo, fazia tudo pelos outros, em sacrifício e o pior, nunca era reconhecida por seus feitos… Claro! Neste caso, a pessoa está refém do referencial externo, buscando no outro sua alforria.

Outro exemplo:

– Eu faço tudo para todo mundo e olha o que acontece…

Já ouviram isto? É importante, tal qual no exemplo do garoto arrumando sua cama, mergulhar na própria história para reconectar-se à origem do evento, ao momento em que você, sem saber, permitiu dar ao outro o poder sobre você para, então, retomá-lo.

Enquanto crianças, eram os cuidadores os donos do cedro, mas na fase adulta é preciso buscar pelo próprio! Por isto, em processos terapêuticos é preciso revisitar a infância e reordenar o processo, reprogramando neuralmente a psique.

Por isto, é tão importante desestigmatizar o EU SOU ASSIM. E se conforta, é comprovada pela neurociência a habilidade de refazimento da eletroquímica sináptica, ou seja, quanto mais se treina, maior é a capacidade de cognição, portanto, maior será a neuroplasticidade. O que venho dizer é: a capacidade é modelada, passível de reprogramar-se. Não existe o:

Eu sou assim e pronto, não vou mudar!

A capacidade tem relação com aprendizagem e, neste caso, estamos falando do sistema funcional cerebral de aprendizagem, mas aqui focado no aprender sobre si mesmo. Esse si mesmo é resultante do funcionamento de seu sistema orgânico, de seu histórico social e cultural, das interações e relações, das oportunidades, do temperamento e da alma/espírito/natureza única.

Para que você seja mais habilidoso em dar respostas, ou seja, ser autorresponsável, é preciso conhecer e revisitar a sua história, compreender alguns pontos cruciais que motivam determinadas respostas, muitas vezes disfuncionais, mas que existem para defender a própria integridade. É preciso conhecer sua epigenética, a sua biologia, é preciso conhecer a sua essência…

Temos ainda uma educação emocional falha. Hoje temos muito acesso a informações de autoconhecimento, mas o trabalho real, profundo, ainda é mínimo. Muitos dos conteúdos de autoconhecimento que se ‘vendem’ podem iludir a mente no trabalho do autoprocesso e as aplicações destes conteúdos não estarem afim com a natureza do indivíduo, por isto terapia é tão importante, pois considera você, nas suas assimilações, na sua unicidade.

Um abraço, Andréa Fray

propósito deste texto é apresentar informações sobre  Autorresponsabilidade propondo reflexões sobre atitudes corriqueiras que reforçam a destituição do próprio poder pessoal e assim possibilitar um reajuste de autoconsciência para que você se livre de comportamentos nocivos e adentre o universo do seu melhor, onde o seu melhor é, neste caso, assumir-se a si próprio e, então, responder ao mundo a partir desta condição.

consciência sobre autorresponsabilidade é fundamental no desenvolvimento de um indivíduo emocionalmente saudável e também na construção de relações mais harmônicas, sejam estas não só relações com o mundo externo – profissional, afetivo, familiar – como relações com o mundo interno – saúde, cuidados consigo, beleza, autoamor, autovalorização e a lida com fragilidades e potenciais natos.

 

Então, vamos lá! Partiremos de teorias psicológicas conjugadas a exemplos da vida real para situar a informação, pois não há consciência possível deslocada da realidade passível. É preciso concretizar o que se entende!

Saber e Fazer

saber e não fazer ainda é não saber

Por que será que às vezes é tão difícil a conexão entre o conhecimento teórico e a sua aplicação, principalmente no âmbito do autoconhecimento, do saber de si? Quantas vezes você disse: “Ah! eu sei disso, mas…” na prática acaba não conseguindo aplicar o que diz saber! Simplesmente não o faz.

Para compreender esses porquês, primeiramente abordaremos o conceito do que é sabedoria e inteligência. Segundo a PNL, sabedoria é inteligência experimentada. Pois é! Sabedoria é a resultante de inteligência aplicada, ou seja, saber só é saber se executado na prática.

E o que é inteligência, então?

A inteligência é um conjunto de características próprias de um indivíduo que o capacita ao “experienciar”; é uma capacidade única desenvolvida por interações individuais frente a qualquer tipo de evento, situação, atividade, fenômeno, os quais aqui chamaremos de estímulos.

PAUSA!

A relevância deste artigo está nas próximas palavras: inteligência tem a ver com você e seu cotidiano, sendo responsável por tudo o que você conquista ou deixa de conquistar, tem a ver com o como você se relaciona e se expressa, pois, sendo a inteligência uma faculdade de compreensão e adaptação que compõe a estrutura humana e relaciona-se com a capacidade de captar e expressar o mundo, ela dita e materializa as qualidades das suas relações com tudo o que diz respeito a você: área familiar, profissional, financeira, social, física, afetividade, assertividade, eficiência, capacidade de discernir etc.

Mulher segurando um livro

VOLTANDO…

Para saber como aplicar um saber, é preciso antes conhecer como se dá o processo de aprendizagem. Para tal recorreremos à área da neurociência cognitiva e à teoria do filósofo e psicólogo suíço Jean Piaget, pioneiro nas construções sobre o saber. Segundo Piaget, o processo de aprendizagem acontece quando a interação física ou mental do indivíduo sobre estímulos provoca um “desequilíbrio” no “sistema de saberes’’ já estruturado e já organizado, os chamados esquemas, do indivíduo. E esse desequilíbrio exige modificações cognitivas no sujeito, estas são chamadas de assimilações (quando há a tentativa de o indivíduo encaixar a nova percepção em um esquema preexistente) ou acomodações (ações do indivíduo em ajustar-se a um novo objeto/situação, a fim de assimilá-lo e de se adequar a ele), gerando assim construções de novos esquemas, de novas organizações, e então de “novos conhecimentos”, de um novo saber específico ou de uma adequação, resultando em um indivíduo transformado, e/ou adaptado.

Quem orquestra e conduz todo esse ciclo é o sistema nervoso central, que é também, sabidamente, o responsável por estruturar as atividades voluntárias e involuntárias do corpo humano e claro o funcionamento dos sensos, dos órgãos dos sentidos.

Tá, mas por que agora falar dos órgãos dos sentidos? Porque são eles que atuam como a interface de captação e interação entre o indivíduo e os estímulos advindos do meio.

Livros de vôo

Para que haja aplicação eficiente de um saber, toda a interação do indivíduo com um estímulo, no momento da aprendizagem, deve estar amparada pela qualidade com a qual a informação é captada e então processada pelo sistema nervoso central. E isso é maximizado com o “investimento nos sensos”: investimento no potencial de audição, tato, olfato, paladar e visão. Os sensos precisam estar apurados para que a captação de estímulos seja realizada da maneira mais legítima possível, contribuindo para uma interpretação cognitiva mais legítima e uma resposta comportamental mais adequada ao meio. Dessa maneira, é essencial que entendamos que tanto a captação como o processamento das informações pelo cérebro envolvem aspectos que são dependentes da qualidade do organismo em receptá-las, ou seja, da qualidade e bom funcionamento dos órgãos dos sentidos.

Mas não são só os sensos que atuam de maneira primordial nesse processo. Emoção, motivação, atenção, socialização e memória são fatores responsáveis pelos níveis de envolvimento do indivíduo com o estímulo, pois interferem no processo de aquisição de informação.

A emoção contribui de forma a fixar mais ou menos um estímulo, ou seja, quanto maior for a emoção no momento do envolvimento com o estímulo, sendo ela prazerosa ou não, maior será a lembrança do estímulo e a significação dele para o indivíduo.

A motivação é o fator que contribui para a disposição do sujeito em captar novos estímulos, o posiciona de forma a poder viver o desconhecido, o novo, a encarar e interagir com os novos estímulos. A curiosidade está completamente relacionada à motivação, pois dispara o fator motivador, predispondo o sujeito a aprender.

A atenção tem a ver com a “quantidade” de interesse despertada no indivíduo pelo estímulo e esta é acionada de acordo com o quanto faz sentido para o sujeito aquele dado. Quanto mais, mais atenção será dada ao evento.

Socialização diz respeito às interações do indivíduo com outras pessoas, com a natureza, com a linguagem verbal, com os valores e com a cultura que o rodeia. A socialização é importante porque ela induz a estruturação dos filtros para a captação e interpretação dos estímulos, pois o estímulo tenderá e será vivenciado de acordo com conceitos pertinentes ao meio em que o indivíduo se encontra.

 

A memória relaciona-se às repetições e ao quanto o estímulo captado afetou o indivíduo, assim sendo, quanto mais repetições, mais absorção do conteúdo proporcionado pela interação.

 

A aprendizagem é dependente da qualidade dos órgãos dos sentidos e do nível de envolvimento psicoemocional e “permissões” socioculturais na interação do indivíduo com os estímulos. Ela tem relação com as experiências sensoriais (captação de estímulos) de um indivíduo frente ao seu meio, mas também com a maneira com a qual um indivíduo conduz suas experiências, e estas, por sua vez, estão totalmente interligadas com a qualidade do organismo em realizar tais captações. A gestão entre captação e interação com estímulos é que formará a inteligência de cada pessoa, ditando assim suas interações e seu desenvolvimento humano, expresso e concretizado em termos de comportamento, ou seja, de sua maneira de encarar, viver e conquistar a vida.

O saber verdadeiro é o que está em suas células e portanto dificilmente será esquecido.

Por isso, lhe pergunto:

 

Como está o seu corpo? Como está o funcionamento de seu processamento mental? Como andam as suas emoções? O que tem sentido? Isso tem contribuído com a aplicação de seus saberes? Você tem se proporcionado condições físicas e emocionais saudáveis para captar e exprimir o seu melhor? Com quais esquemas você tem se identificado? Quais emoções estão estruturando seus esquemas? Isso tem ajudado você? Espero que sim!

Um abraço, Andrea Fray.

Homem que olha para fora para as montanh
Vaidade

Vaidade:

um primeiro estudo

Que atire a primeira pedra... Quem já não se vangloriou por causa de um elogio? Quem não se orgulha de ser conhecido como vaidoso? Quem já não se sentiu sobrepujado por um comportamento vaidoso de alguém?

São muitas as atribuições conceituais à palavra vaidade. Mas, afinal, o que é a vaidade? Pois bem, para responder vamos recorrer à etimologia da palavra e aos significados apresentados no dicionário. A vaidade, conhecida por ser um dos sete pecados capitais, é um termo originário do latim – ‘’vanitas, vanitatis” – que, curiosamente, significa VACUIDADE, ou seja, o que é próprio do vácuo, VAZIO ABSOLUTO!

No dicionário da língua portuguesa, vaidade é: 

Substantivo feminino; Uma qualidade do que é vão, vazio, firmado sobre aparência ilusória; A valorização que se atribui à própria aparência ou a quaisquer outras qualidades físicas ou intelectuais, fundamentada no desejo de que estas sejam reconhecidas ou admiradas por outrem.

Somando-se a todos estes significantes, pergunto a você, leitor:

• Se a vaidade é uma qualidade do que é vão e fundamenta-se na admiração alheia, sendo tal qualidade baseada em vazio, o que é de fato esta qualidade? 

 

Vazio + vazio = vazio?

Paisagem do deserto

• Será o comportamento vaidoso uma necessidade absoluta de preencher tal vazio (vazio de si?) com uma ou mais qualidades que a própria pessoa admira e deseja, mas sente não as possuir? É algo que está aos seus próprios olhos, mas que a pessoa não vê?


• O olhar das outras pessoas é, então, um espelho que refletirá a mais convicta imagem do que se quer ser, mas não o é? O olhar do outro é uma possibilidade de ser?

• O olhar do outro é uma ferramenta para um reconhecimento um pouco menos vazio?!

 

Que dor!

Podemos dizer que o vaidoso, então, engana-se ao enganar aos outros? Finge alimentar-se e satisfeito sem nunca ter nada ingerido, sem nunca ter sentido um único gosto! Fantasia?! Um ator!

Segundo S. Tomás de Aquino, a vaidade é de forma indubitável o pior dos sete pecados capitais, sendo este, em sua visão, o responsável pelos outros seis. Diz: “Onde não há vaidade, não há gula, porque o alimento é visto como sustento, e não como objeto inanimado dos desejos – E, sabemos da natureza dos desejos, inesgotável. Basta realizá-lo que logo surgem outros tantos. – Sem vaidade, a avareza perde sua razão de ser, levando consigo a inveja, pois não há por que malograr a felicidade alheia, ou seja, não há comparações.

 

À ausência da vaidade segue a da ira, porque os julgamentos tornam-se lúcidos, as imperfeições de outrem, similares às nossas, posto que inerentes ao ser. Quando a vaidade não viceja, a luxúria descobre-se supérflua e desnecessária. Sem vaidade, não há preguiça, pois inexiste o orgulho por nada fazer para se ganhar a vida”.

Já Schopenhauer, em seu livro Metafísica do Amor, conclui que “a vaidade é o desejo de despertar nos outros a convicção de sua superioridade, com a esperança secreta de chegar por fim a convencermos a nós mesmos. A vaidade é faladora e precisa de aplausos”.

máscara falsa

E eu, que vos escrevo, concluo que:

‘’A vaidade é um sentimento sutilmente perigoso, empobrecedor e limitante, dependente de sentir o que se é a partir da manipulação dos olhares e aplausos alheios de forma que o ser só se reconhece a partir da aprovação e validação dos outros’’.

Sigamos em frente com a coragem de nos vermos em nosso tamanho real, com forças e fragilidades, confiantes na abundância do universo e na infinitude do tempo. Podemos ser apenas o que somos hoje, no aqui e no agora!

Um abraço, Andréa Fray

Campo Mórfico

Campo mórfico

o que isso tem a ver com você?

Em tempos de transformações tão explícitas no planeta e na humanidade, é de suma importância abordarmos o ‘funcionamento do invisível na natureza’, para refletirmos sobre o poder de ação de cada indivíduo e sua interferência na trajetória do coletivo.

A Teoria do Campo Mórfico explica o que é um sistema e como ele funciona.

Em 1981, o biólogo e bioquímico Rupert Sheldrake, eleito como um dos 100 maiores líderes globais em 2013 pelo Instituto Duttweiler em Zurique, na Suíça, lançou os livros “Hipótese da Ressonância Mórfica” e “Uma Nova Ciência da Vida”, contendo sua Teoria Geral de Sistemas, além de uma série de formulações holísticas, passíveis de demonstração, que ajudaram a compreender como os organismos adotam as suas formas e seus comportamentos característicos.

Segundo o cientista, cada entidade de átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares e galáxias estaria associada a um campo mórfico específico que, distribuído imperceptivelmente pelo espaço-tempo, conecta e organiza todos às unidades a eles associadas.

Abstract

Os campos mórficos seriam, então, estruturas modeladoras da forma e do comportamento de todos os sistemas do mundo físico.

Para facilitar o entendimento da Teoria dos Sistemas, Ken Keynes Junior escreveu uma fábula alegórica exemplificando o funcionamento do campo mórfico: a fábula do centésimo macaco. Você já ouviu falar?

A história se inicia narrando a realização de uma pesquisa científica em uma ilha isolada na China para avaliar os hábitos alimentares de macacos. Keynes conta que era do conhecimento de todos os pesquisadores o comportamento alimentar habitual dos animais de levarem diretamente à boca as batatas-doces oferecidas para comer. Porém, certa vez, um macaquinho resolveu fazer diferente: levou a batata ao mar para lavá-la antes de comer. Assim, pouco a pouco, os cientistas notaram alguns dos outros macacos da ilha repetindo o mesmo movimento daquele filhote e, com o passar do tempo, observaram uma modificação completa dos hábitos a partir da aderência do centésimo macaco ao novo comportamento. Assim, todos os mais de mil macacos da ilha passaram a lavar a batata também, antes de comerem.

rede

No entanto, o mais surpreendente ocorreu na análise de macacos situados em outras ilhas distantes daquela, onde esses, sem terem tido contato algum com os da primeira ilha chinesa, também passaram a lavar a batata no mar antes de a ingerirem.

 

Dessa maneira, conclui-se que a partir de uma simples iniciativa de um indivíduo e da adesão de um número preciso, neste caso, de 100 macacos, todo um sistema comportamental foi alterado e isso devido à conexão por um campo mórfico organizador de todos os seus componentes.

A teoria de Kupert na história de Keeynes abrange a Biologia, porém seu mecanismo extrapola para as áreas da Psicologia e Física, demonstrando objetivamente a responsabilidade de um comportamento individual e o quanto nós, seres humanos, estamos a todo tempo influenciando a operacionalização da vida e por ela sendo influenciados.

 

Diante de um mundo cada vez menor e sempre recheado de benéficos ou prejudiciais movimentos, incentivos e estímulos, conceitos e práticas ideais, vale refletir qual tem sido a nossa iniciativa particular. Qual tem sido a nossa vibração preponderante e onde ela ‘levará’ a todos ao seu redor?

Chegar a uma percepção dessas não é nada simples, por isso mesmo tal consciência de funcionamento do sistema é importante, de modo a auxiliar o administrar e o refletir individual e coletivo sobre o que estamos fazendo a cada momento, pois somos natureza poderosa e por ela somos regidos.

Um abraço, Andrea Fray

Ferias Terapeuta

a terapeuta está de férias. E agora?

Não é fácil lidar com as férias do terapeuta. E, saibam, o terapeuta também tem suas preocupações com essa fase de distanciamento. Para o profissional e para o cliente, o período de ausência pode gerar receios quanto a crises desassistidas, por exemplo.

Porém, tanto o profissional como seus clientes devem tirar férias do processo. Não só para o óbvio descanso, necessário à recuperação do trabalho realizado, demandante a ambos, mas, principalmente, para possibilitar ao assistido:

👉 maior treino do autossuporte, da autogestão;

👉aplicação e fortalecimento das novas consciências adquiridas;

👉 aplicação das ferramentas de autoanálise e percepção do Eu de forma mais vital, ou seja, realmente é preciso, mais do que nunca, contar consigo;

👉 insighs novos sobre assuntos tratados em sessão, ou seja, fichas mais profundas vão caindo…

Sala de terapia

Como terapeuta, deixo sugestões produtivas para lidar com esse período:

👉 Registre suas percepções!

“Pescou” algo sobre si mesmo, suas relações, comportamentos, história, não se desespere. Você não “perderá” essa informação. Você poderá escrever em um caderno, livro de anotações, no celular ou no computador. Vale até um gravador. Registre.

👉 Use mais seu corpo! (isto é importante sempre!)

É comprovado que a prática de exercícios físicos aumenta o nível de hormônios que trazem bem-estar e diminuem a ansiedadeInsistir no cuidado consigo garante mais segurança na Gestão do Eu frente a situações cotidianas ou de maior estresse. Coloque-se à prova!

 

👉 Informe-se sobre o retorno do terapeuta.

Informe-se sobre as possibilidades de contato em urgência e, se possível, deixe a sua próxima sessão agendada com antecedência para o período de retorno.

Isso garante maior tranquilidade.

👉 Em caso de urgência, acione o seu terapeuta pelos contatos acordados para tal.

Não são todos os profissionais que permitem essa abertura.

Porém, alguns profissionais deixam seu e-mail ou telefone particular ou ainda o de sua secretária, especificamente para casos de urgência.

👉 DESCANSE, se dê um tempo também.

O ócio criativo é o mais produtivo para percepções.

Se ficar à vontade, compartilhe suas alegrias e angústias sobre o período de férias da terapia.

Um abraço, Andrea Fray

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